segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Comodismo

Acordou cedo, seu quarto não estava como deveria a noitada anterior havia deixado as maquiagens espalhadas entre as dez blusas que havia experimentado, não achou seu relógio, não faria falta, ela sempre olhava as horas no celular entre uma chamada e outra. A roupa ela escolheria depois, precisava primeiro cuidar de seu rosto, as olheiras não deixariam uma boa impressão naquele dia. Entre os sapatos estava seu corretivo, entre os sutiãs o blush, pronta. A roupa básica a faria passar despercebida, eram sete horas mais um pouco se atrasaria no meio das cobertas, a chave do carro. Ela arrumaria tudo quando voltasse.
Quinze minutos parada no transito, quinze minutos andando, todos os dias eram assim, contados. Sentiu falta da ligação, uma falta cômoda, era estável ter alguém por perto. Começou a lembrar de como havia sido fácil, ela preferia pensar assim, que em alguns meses ela estava de novo acomodada, a falta das mensagens já se tornara um hábito. Sua vida não havia mudado muito, nunca gostou de sair, de ficar, dançar sim, mas isso ela fazia antes. Chegou, subiu ao décimo terceiro andar, sua mesa não estava organizada, mas lembrando-se de seu quarto achou-a perfeita.
O almoço foi como sempre no self service próximo, já havia se cansado da comida, mas sua comodidade sempre falava mais alto. Nem no almoço desligava o celular, era um hábito, de novo sentiu falta da ligação, mas entre a salada e a sobremesa se esqueceu. Enquanto arrumava o quarto tentava ignorar o porta-retrato que a olhava, os dois, naquele dia em que ele se esqueceu do aniversário de namoro, já haviam se passado três anos, a amiga tirara a foto enquanto brigavam, era linda ela tinha que aceitar. Terminou colocando as maquiagens em escala de cor. Na hora de se deitar repetiu o velho hábito de reler as mensagens, era cômodo tê-lo por perto a noite, por fim ligou para o celular, caixa postal. Já cochilando ela pensava em possibilidades que justificassem o celular desligado. Era cômodo ter uma desculpa pra não se lembrar do celular desligado, junto das roupas e pertences que ela não conseguira se desfazer.

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