segunda-feira, 12 de abril de 2010

Independência?


Desde nova, como a maioria das crianças entrando na pré adolescência eu pensava algo semelhante à: “Com 18 anos vou entrar na faculdade, vou me mudar, vou morar sozinha, talvez eu divida o apartamento com minha melhor amiga, vou arrumar um emprego e vai ser tudo lindo.”

Fiz 18 anos e nada (digo NA-DA) disso aconteceu, comemorei meus 18 entre amigos, na casa que fui criada por meus pais, e lá permaneci. O emprego, deixei pra depois já que a faculdade por si só andava ocupando demais minha cabecinha. Segui assim, até que minha mãe no auge de sua criatividade, ou insanidade melhor dizendo, resolveu que mudaríamos todos. Pai, mãe cachorros e irmãos. Mal sabia eu, pobre e inocente que isso era apenas um Plano, plano esse que ainda não descobri o fundamento.

Me deparei ha mais ou menos uma semana, morando sozinha. Na verdade com meu irmão, mas este sendo mais novo, dá na mesma que sozinha. Nos primeiros dias meu simples apartamento se resumia em: três camas (uma para caso minha mãe ou pai resolvessem dormir aqui), um pacote de Doritos, duas Ruffles, um pacote de biscoito recheado, uma barra de chocolate pela metade, e uma coca-cola (quente).

A geladeira chegou três dias depois, quando minha mãe mandou uma remessa de móveis para a casa, nessa remessa ela, muito generosa, ainda mandou várias comidas por ela preparadas, congeladas. Continuei na mesma, já que não havia fogão muito menos microondas. Me sentiria no século XIX, se não fosse pelo supermercado em frente, ou pelos self-services próximos.

Outro dia tive de ir ao supermercado, pois no desespero de limpar a casa, descobri que além de não ter uma bucha para no mínimo lavar a louça, eu não possuía uma pá de lixo para varrer a casa. Sem contar nos produtos de limpeza, que alguns dos que minha mãe havia trazido, cerca de 40% eu não sabia em que, nem como usar.

Minha conta de telefone ainda não chegou, mas meu medo aumenta a cada dia, por saber que ele é meu único meio de contato com pais, amigos e namorado. Por conta da saudade já imensa da minha mãe, a chance da conta ultrapassar os 3 ou 4 dígitos tem aumentado muito, pois conversas banais durante o dia tem sido normais e quase interruptas.

Meu namorado adquiriu novas qualidades e características com minha mudança, ele anda pensando seriamente em um emprego como carregador, ou faxineiro pras horas vagas, e devo garantir que ele está bem treinado. Além de novas experiências profissionais para seu currículo, ele ainda adquiriu uma nova vizinha.

Não sei de que esse meu relato pode servir para alguém, você pode estar sentado diante do computador rindo dessa pessoa aqui, que deve ter emagrecido uns dois quilos em uma semana. Pode estar se questionando como alguém é louco de fazer algo assim. Ou pode repensar, em cada vez que chegar em casa e seu almoço estiver pronto e quentinho te esperando, pode pensar em como é bom ter um banheiro limpo sem ter tido que limpá-lo, pode começar a até mesmo dar mais valor no boa noite que seus pais te dão ao ir dormir.

Eu estou à exatos 27 km e 234 metros da minha casa de verdade, esse trajeto tem sido percorrido por mim, quase todos os dias, mesmo com a mudança, e por enquanto, não pretendo parar de fazê-lo.

sábado, 3 de abril de 2010

Looking for something


Outro dia acordei procurando, não me pergunte o que, o por que ou como isso surgiu. Mas acordei com uma intensa vontade de procurar. Abri meu guarda roupa e me deparei com uma bagunça que eu ainda não fazia idéia que estava ali, procurei enquanto arrumava, achei minha blusa preferida de três anos atrás. Achei meu uniforme da pré-escola, e me deu vontade de chorar ao ver que nem na minha sobrinha serve mais. A, o tempo. Continuei procurando.

Vi que minha calça jeans desbotada, e favorita no primeiro ano do ensino médio provavelmente não passaria das minhas coxas. Tudo bem, eu nem queria usar mesmo, ia me deixar um tanto quanto pirigueti. Continuei minha procura.

De repente me deparei com vidros de perfume, maquiagens, esmaltes, cangas, brincos, esteticamente, e perfeitamente e organizados. Não, eu ainda não havia achado nada que me saciasse. Procurei na minha mesa, entre gavetas com antigas cartas, recibos, contas, bilhetes trocados com a melhor amiga na 7ª série, risos e meias lágrimas, mas sem saciação.

Deixei a mesa mais desorganizada do que antes, e passei pra sapateira. Caixas de sapato jogadas pelo quarto, enquanto eu desfilava de salto e pijamas, na frente do espelho, me alegraram um pouco. Mas relevei minha bagunça em nome da minha procura. Eu simplesmente não achava.

Debaixo do colchão, na gaveta da cômoda, caixa de jóias da minha mãe, armário de documentos do meu pai, escrivaninha do irmão, nada. Me deu vontade de chorar, de correr e sentar na chuva lá fora. Eu havia visto tanta coisa, era tanta vida, tanta história, e eu ainda me sentia vazia. Me culpei.

Me culpei em todos os segundos em que pensei me sentir vazia, me culpei a cada minuto que procurei, me culpei quando te vi chegar, me abraçar e me dizer “Oi linda”.

Me culpei por procurar, mesmo sem saber, algo indefinido, na vaga esperança de achar alguma coisa que substituísse sua ausência.