domingo, 30 de maio de 2010

Confie no cristal


Quando esquecemos o valor da confiança, tem sempre uma maldita hora que ela resolve nos lembrar. Outro dia fui ao supermercado na esquina da minha casa. Como pelo menos três vezes por semana vou lá, e peço sempre a mesma quantidade de sushi. Neste dia inesperadamente o sushi man me fez uma pergunta estranha;

“O de sempre?”

-Sim, por que.

“20 minutos está pronto!”

-Mas ainda nem escrevi o pedido!?

“8 sushis de atum, 8 de camarão, 8 makis de atum, 8 de camarão, e quatro de polvo. Certo?”

-Sim

“Então, 20 mim você desce.”

Ok, eu confiei, deixei por carga da bendita memória daquele Sushi Man, o meu santo pedido. Acho que ele deve ter percebido que, eu morava no prédio logo em frente, e que descia pontualmente na hora que meu pedido estava pronto. Em 20 minutos estava eu, feliz, com meu pedido certo na mão.

Um dia minha mãe me contou, que confiança é como um cristal, que após quebrado, você pode até colar, e tentar concertar, mas ele nunca mais será o mesmo. Desde nova quando minha mãe me contou isso, prezo para que esse pequeno cristal que entrego a quem gosto, não se quebre.

Mesmo assim outro dia percebi que a confiança, é um cristal que poucas pessoas carregam por aí. Sei que muito poucas deixariam o pedido do sushi por conta daquele sushi man. Poucas se importariam com o tal cristal, e nem mesmo sabem que ele existe.

Esqueci-me de contar como esse cristal é valioso, ele não é importante apenas para sushis, mas para todas as relações humanas. Adolescentes de 14 anos provavelmente irão parar de ler esse texto nesse momento, mas se têm alguém que têm um cristal quase inquebrável, é o da confiança das mães.

Existe confiança maior, e mais regeneradora que a de uma mãe?

Com certeza você, quando tinha seus 14 anos brigou com sua mãe, prometeu nunca mais perdoá-la, se arrependeu e achou que ela nunca mais te perdoaria. Errou, ela ficou chateada, provavelmente chorou, mas te perdoou no final, e a confiança se reconstituiu, miraculosamente.

Se alguém conhecer alguma convivência sem confiança, por favor me conte, pois não acredito, muito menos conheço nenhuma.

Sei bem por que comecei esse texto, mas não acho que tenha tanta relevância assim. Acho apenas que comecei a dar valor às pequenas coisas que possuo. Como aquele cristal pequeninho que deixei com quem eu amo por aí.

Se você achar, cuide bem dele.
Por favor, e obrigada.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Indeferido


Outro dia indeferi ao tempo três coisas. Ele me disse que elas eram difíceis, e que provavelmente, eu não conseguiria indeferi-las. Resolvi arriscar, escrevi uma carta bem explicada, separei em tópico explicativo cada uma das três coisas, para que não houvesse confusão.

"Senhor tempo,
Estou aqui hoje pra esclarecer as coisas entre a gente. Chega de me mandar mensagens implícitas pelo relógio, pelo dia que acaba ou pela noite que começa. Vamos esclarecer as coisas entre nós, ou eu nunca ficarei plenamente feliz.

1.Não irei mais receber saudade.

Ela não me faz bem, e geralmente você faz questão de trazê-la. Não quero saudade de tempos bons, por que esses quando bem vividos não deixam saudade. Não quero saudade de quem morreu, por que essa saudade não cura, ela amargura, inflama, ela dói e depois você ainda faz questão de não querer levá-la embora. Não quero saudade triste nem saudade feliz, quero o presente, e esse requerimento não deve ser entregue ao senhor.

2. Não quero mais tantas mudanças.

Convenhamos, estou chegando aos 20, e depois disso, dizem que você não faz nenhuma paradinha, sai correndo com os anos, e nos leva sem ver. Quero aproveitar, pode até passar rápido, mas não aceito minhas mudanças físicas. Deixe a gravidade pros 70, a artrite pros 80, a chatisse pros noventa. Deixe as mudanças pra quando elas não fiçam tanta diferença, por enquanto mantenha meu corpo, conserve-o. Esqueça que tem que trazer meu primeiro fio branco, ou meu primeiro sapato ortopédico.

3. Desisto de acreditar que você não passa.

Sei que já tentou me convencer disso várias vezes, mandou mensageiros vizinhos, fotos, gravações, mas eu não acredito. Pare de achar que sou boba e estou me convencendo de que você vai demorar a passar, sei que quando eu ver já terá passado. Eu não acredito mais em você, desista de se esconder de mim, sei que está ai, e vai continuar.

A gente pode fazer um acordo, como diria o sábio Mario Lago; Se você não me perseguir, eu não fujo de você, quem sabe uma hora a gente se encontra?

Beijo
Juju"

Carta escrita em um dia qualquer, quando o tempo me lembrou que eu havia me esquecido dele, e resolvi de uma vez por todas esclarecer as coisas.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Parei pra pensar.


Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.

John Lennon