quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Unhas


Estive pensando em unhas. Desde que minha mãe me levou ao salão para fazer minhas unhas para que eu parasse de roê-las, costumo usa-las como uma medida temporal particular. Geralmente faço meu pé semana sim, semana não, e as mãos toda semana. Antes meu esmalte não costumava durar quatro dias. Sob ameaça de não voltar ao salão, consegui fazer com que ele durasse a semana inteira, apesar de ser quase uma tortura vê-lo descascado.
Quando o esmalte se solta no terceiro dia eu sei que algo esta errado, geralmente isso acontece uma vez ao mês, naquela bendita semana conhecida popularmente como TPM. Nessa semana nem a unha do pé costuma durar, ainda mais com a seqüência de topadas no pé da cama, que essa fase costuma ocasionar. O esmalte nunca dura em semana de prova, nas vésperas de vestibular não durava nem a cutícula, que sempre terminava sangrando com a insistência em arrancar determinada pelinha durante as provas.
Já ouvi várias teorias sobre a maior durabilidade das unhas do pé, algumas mulheres dizem que elas duram mais por que as vemos de longe, por isso não identificamos defeitos e não temos vontade de tirar o esmalte que já está fosco. Não precisei testar essa teoria, já que depois de duas horas deitada no sol encarando o seu pé, vi minha cunhada desesperada por uma acetona e um algodão, para tirar o esmalte Gabriela que ela havia passado há menos de uma semana.
Devo confessar que a minha contagem de tempo pré-adolescente feita através das unhas ainda está sendo utilizada. Não vou esconder a tristeza com que tirei a unha francesa que usei no casamento do meu irmão, confesso até que foi apenas nessa hora que me dei conta que realmente tinha acabado, mesmo estando a quase uma semana da data. Resolvi então substituir a unha comportada por uma mais marcante, veio um cor-de-rosa para me alegrar.
Eu não deveria contar esse segredo feminino, já que a maioria devo dizer, a quase totalidade dos homens não sabem a importância que uma unha bem feita tem para uma mulher. E essa mesma maioria não tem a mínima idéia da quantidade de informações que um esmalte pode trazer.
Quanto ao segredo da cor dos esmaltes devo dizer que este será revelado depois. Agora estou muito ocupada, tentando diagnosticar o por que da minha unha do pé ter durado mais que meu último "namoro". A primeira hipótese é a ótima qualidade dos esmaltes Risqué.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Preto e Branco

Desligou o telefone quase se esquecendo do cansaço que a possuía. Andava por aí, casada de tudo, cansada do quarto, mesmo depois de mudar os móveis de lugar, cansada da rotina, das pessoas, das conversas, sempre as mesmas conversas. Tirou a sandália sem salto, mesmo assim sentia a dor nos pés. No banho usou o sabonete relaxante, o shapoo de camomila, continuava igual. Era tudo tão igual, suas roupas sempre as mesmas, o perfume, o mesmo shapoo de camomila.
Estava em um movimento inerte de tédio, tudo tão sem graça que já havia se pegado pensando que era tudo cinza. Tentou mudar, o corte de cabelo, o shapoo, o sabonete e até o namorado, cinza. Continuava tudo igual. Foi se deitar como fazia metodologicamente, cansada.
Estava assim, cansada dela mesma.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O que toda mulher inteligente deve saber

Outro dia remexendo entre minhas prateleiras de livros preferidos, me deparei com um que posso jurar que sei de cor. Entre os guias do primeiro beijo, no meio dos livro que caíram nos vestibulares passados e que minha professora de português insistia na leitura, estava lá minha bíblia (sem conotações religiosas).
Devo confessar que ele é quase um manual de como terminar, superar, esquecer, e sair por cima de qualquer relacionamento. Sendo até mesmo capaz de transformar qualquer príncipe encantado em um sapo boi. O título do Livro é o mesmo desses texto.
Não em vanglorio, ou me considero inteligentemente superior às outras de minha espécie quando digo que já sei o livro de cor, e creio que já sabia antes mesmo de ter lido, apenas fico me questionando com como nós mulheres precisamos de auxilio com coisas tão simples e obvias como homens.
O livro veio em uma hora ideal, mas dessa vez não pra mim. Entre os desabafos de uma amiga que está no possível, e interminável fim de um namoro, lembrei do livro que estava situado ao lado de minha cama. Apesar de ter o folheado inúmeras vezes antes de dormir, apenas durante a conversa lembrei que quando eu estava nessa mesma situação havia marcado uma página do livro, e ela permanecia ali marcada com uma carta.
O que estava escrito na página não poderia ter sido mais adequado sei bem, pois também tive de ler o que ela leu para cair na real. Estava tudo descrito em detalhes, o sentimento, o vínculo, e a dificuldade da aceitação do final. Não sei se o efeito será imediato, mas acredito que a realidade estampada na cara da minha amiga ajude um pouco.
Existem meios de aprendizado diferente para cada pessoa, sei que na maioria das vezes aprendemos da pior maneira, principalmente nós mulheres. No final aprendemos, mas não custa adiantar um pouco essa aula.
É como o próprio livro diz;
"As mulheres inteligentes sabem que nenhuma mulher nasce inteligente.
As mulheres inteligentes também sabem que é possível aprender a ser inteligente de duas maneiras - a maneira difícil e a maneira fácil. "

Para ler,
O que toda mulher inteligente deve saber. Steven Carter e Julia Sokol. Ed. Sextante.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Detalhes essenciais

Sabe aquele dia que você me contou por que com ela não tinha dado tudo certo?
Sei que você reparou que preferi mudar de assunto. Achei melhor não render muito, preferi nem falar dele, eu sabia que você gostava de ouvir os erros para não repeti-los, mas eu não estava no clima. A gente sempre acaba brigando no final dessas conversas. Era melhor assim. Me perdia enquanto você comentava sobre a roupa da conhecida que passou, nem reparei, mas ri junto. Esqueci de te contar minha última história engraçada, melhor assim a sua tinha sido melhor mesmo.
Não sei se fico meio boba quando estamos assim, juntos. Mas mesmo parecendo uma eternidade de novidades quando vou contar para minhas amigas, sinto como se fosse pouco. Incrível como às horas viram minutos, minutos segundos e segundos milésimos quando estamos bem. Não quero perder o frio que sinto quando te vejo vindo de longe, nem quero perder o costume de te ter. Não quero perder o costume de já saber o que você quis dizer muito menos, perder o medo de quando não sei.
Estamos assim, estamos bem. E do jeito que está, pretendo que continue, quero continuar rindo das suas piadas que não tem graça nenhuma, quero continuar com raiva por não te ver sempre, continuar com saudade, para continuar sentindo tudo que eu sinto quando a gente se encontra, quando estamos juntos. Por que são nessas e em todas as outras horas que sinto que nada mais importa.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Querido Papai Noel

Belo Horizonte, 17 de Novembro de 2009

Querido papai noel,

Sei que ainda estamos no meio de novembro, mas após ver praças iluminadas, shoppings decorados, anúncios das casas bahia, ponto frio, pernambucanas com promoções especiais de natal resolvi adiantar-me em alguns dias e lhe escrever. Esse ano, me comportei bem, digamos assim. Sei que andei meio desvirtuada em alguns meses, “curtindo a vida” em excesso. Mesmo assim sei que ainda tenho certo crédito pelos outros 17 anos de comportamento exemplar.
Pois bem, passei com ótimas notas no semestre passado, e pelo que vejo esse semestre também. Mesmo com meu comportamento considerado descompromissado pela maioria, me sai bem em quase todas as matérias. Fui muito dedicada com meus compromissos em casa, não tive nenhuma briga séria com minha mãe esse ano. Meu pai, fiz questão de tratá-lo bem durante todo o ano, e ainda assim ele comprou um carro pra ele e não pra mim. Quanto ao meu irmão, tenho sido a irmã mais companheira a ponto de acompanhá-lo em micaretas. Fui uma ótima madrinha no casamento do meu irmão. Engoli todo o meu ódio recente da minha outra cunhada pelo simples fato do meu irmão resolver reatar com ela. Me dediquei ainda, a ser a melhor amiga possível a todos a minha volta, acho que ando conseguindo.
Por causa de todo o meu bom comportamento Papai Noel, resolvi escrever essa carta a você. Eu podia usar muitas outras justificativas e pedir-lhe um carro, mas sei que o reconhecimento paterno irá me garantir esse direito alguma hora. Esse ano decidi ser um pouco menos materialista e pedir coisas, que nem economizando minha mesada por muitos meses eu conseguiria comprar. Sei que posso te dar certo trabalho já que alguns pedidos eu gostaria de receber antes do natal, mas já que está tudo adiantado mesmo, estando em dezembro pra mim já é tudo natal.
Gostaria amado Papai Noel, que da próxima vez que eu for fazer meu exame de direção que você com toda sua magia natalina me iluminasse, e fizesse com que meus calmantes dessa vez façam efeito. Lembrando ainda que não depende só de mim, gostaria que caprichasse no espírito natalino dos examinadores, sem se esquecer do bônus de final de ano que eles poderiam ganhar para estar de bom humor.
Sei que estou pedindo coisas de mais, mas como há mais ou menos dez anos não lhe escrevo me sinto na liberdade de abusar, ainda mais por não pedir nada material. Como não me esqueci do valor familiar dessa época do ano, gostaria de pedir-lhe que me poupe da parte extremamente cansativa da família, e que você consiga me conceder o meu tão sonhado natal reservado . Esclarecendo, quero passar o natal só com a parte amada da minha família, mãe, pai, irmãos, sobrinhas, e cunhada, sei que isso traz alguns agregados, portanto peço-lhe que consiga selecionar bem, a parte agregada da festa.
Pensei a uns dias atrás em lhe pedir um namorado, para que eu pudesse compensar meu comportamento “solteira nas baladas” que durou quase todo o ano, mas andei pensando um pouco demais nisso e achei que seria um pouco exagerado e precipitado. Então resolvi pedir só alguém para passar o domingo, seria na medida ideal.
Não me prolongarei muito nessa carta, pois sei que ainda existem algumas outras milhões para o senhor ler, que incluem a nova Polly Pocket, a última Barbie lançada, o vídeo game que o pai não deu, a bicicleta nova ou mesmo a maquina de fazer sorvete.
Agradeço antecipadamente por todos os pedidos, acredito que você não irá me decepcionar assim como não me decepcionou em todos os anos que lhe escrevi, portanto já estou providenciando duas cópias da carta que surgirão em baixo dos travesseiros de meus pais. A magia natalina Papai noel, você nunca me deixou esquecê-la.
Um grande abraço,

Juju

P.S. Caso sobre um tempo entre a realização de um pedido e outro, eu não encomodaria em receber um Louboutin, um balmain e um kit da M.A.C você sabe né Papai noel, depois do natal vem reveillon e eu adoraria estar toda rhyca com meus presentes de natal. Bom não custa tentar.

sábado, 14 de novembro de 2009

Ódio

Ontem fui dormir pensando, até onde meu ódio vai me levar. Incrível como mudo rápido de pensamentos, na hora de dormir eu já havia arrumado todas as soluções para um ódio proposital.
Lembrei de fatos simples, como a amiga que briguei por ciúmes na oitava série, fiquei um ano sem conversar. Quando fui pedir desculpas, ficou tudo bem, mas nunca a mesma coisa. Lembrei também do meu primeiro namorado, um namoro de seis meses me fez ficar sem conversar com ele por mais de um ano, até hoje não sei bem o porquê. Tudo bem que seis meses de traição pode levar uma mulher a loucura, mas esse é um assunto muito complexo. Ainda pensando no meu ódio lembrei do dia que briguei com minha mãe por que ela emprestou minhas roupinhas de neném para minha cunhada, me levou a ficar um mês sem conversar com ela, sem ter dado nenhuma explicação.
Depois de todo esse meu ódio refletido, comecei a interpretá-lo como rancor, e vendo exemplos como meu pai que a 16 anos não conversa com minha tia, decidi mudar. Não sei se desbloquear meu ex foi um bom começo, mas achei digno. Descobri que meu primeiro ex continua o mesmo babaca de quando namorou comigo, mas ainda assim foi uma boa conversa, amigável digamos assim. Não vai ser mais tão desconfortável encontrá-lo em festas por ai. Quanto a alguns outros ex a gente descobre que tem pessoas que não gostam muito da idéia de evoluir, e só os resta aceitar. A minha amiga de oitava série me rendeu uma longa conversa por telefone, novidades que não se acabam devo encontrá-la essa semana para uma conversa mais detalhada. Minha mãe, com ela eu já havia resolvido quase tudo, mas agora juro que não sinto ódio, de até hoje minhas roupinhas não terem voltado, mas para isso a sulução é apenas conversar com minha cunhada.
Íncrivel como complicamos coisas tão simples.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Definição

Naquele dia decidi terminar. Ou melhor, começar. Começar terminando o que nunca tivemos. Passara o tempo de começar, então já havia chegado o tempo do final. Era pra ter sido simples, não foi. Simplesmente acabou. Assim como eu nunca soube o que falar, não sabia nunca o que iria ouvir, era imprevisível, isso tornava as coisas mais fáceis, elas fluíam. Mas naquele dia isso foi o problema, não saber. Eu nunca sabia me incomodava essa situação desde o começo. O começo. Ainda me questionava se havia existido um começo, naquele momento eu só via um final. Um final de algo que nunca começou. Não sabia o que falar, preferi não falar nada. Não havia começado, era melhor também não determinar um fim. Deixei assim, indefinido como tudo o que passamos juntos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Expectativa

Ela não esperava muito, ás vezes não esperava nada. Já tinha se acostumado com isso. “Diminuir suas expectativas.” Ouviu tanto de suas amigas que já nem ouvia mais, ela simplesmente não as tinha. Nunca foi de esperar o príncipe no cavalo branco, nunca esperou um príncipe na verdade, mas esperava alguém. Ela se contentava em estar, estando bem, ficava bem. Entre as decepções, desilusões, conheceu o que costumam chamar de felicidade, mas se esqueceu como era. Nunca negou, mas escondeu o frio na barriga que sentia quando ele passava, um frio sempre sem expectativas, mas um frio que ela achava quase quente. Ela sabia exatamente como seria a história do começo ao fim, mesmo antes de começar, mas enquanto estivesse bem valia a pena. As histórias eram sempre tão iguais, chegava a questionar se não estava repetindo o mesmo erro, mas de certa maneira elas a deixavam mais alegre mesmo que nas lembranças. Ela já via o fim próximo, por que agora quando ele passava, ela podia se lembrar do frio que sentia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ele decidiu guardar as fotos junto das cartas. Colocou cada coisa em um envelope, separados por épocas, fotos, por categorias que iam de cartas românticas às de reconciliação. Ele não esquecera o dia do aniversário de namoro, assim como não esqueceu o dia do primeiro beijo. Mas já fazia tempo de mais que não a via, era hora de seguir em frente, ou pelo menos tentar. Algumas cartas ainda tinham seu perfume, mas da última vez que a encontrou e sentiu seu abraço frio percebeu que ela também tinha mudado de perfume. Ao olhar em seus olhos sabia que não era a mesma menina, era uma mulher, mas não a que ele imaginou que ela se tornaria. Ele estava com uma nova menina, era o oposto dela, em tudo, desde a cor do cabelo até o jeito de falar. Não podia dizer que ela o fazia sentir-se bem, mas não fazia sentir-se mal, apenas não o lembrava em nada do amor que ele escondia dele mesmo. Pelo menos enquanto estavam juntos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Casamento

Acho que ainda estou meio impressionada com como essa semana passou rápido. Já ouvi teorias que explicam isso pela presença do feriado de finados em plena segunda feira, mas isso não me convenceu. Acordei hoje e pensei bom hoje é quinta feira. Quinta feira? Bom, dia cheio, salão, compras, fali mais do que já estava falida, correria, briga pro meu pai comprar essa camisa e não aquela briga com meu irmão pra usar aquela gravata e não essa. Uma longa e calma conversa para convencer minha mãe que scarpin está fora da moda, pelo menos nessa estação (e espero que por muitas outras que estão por vir). E mais uma ou duas horas rodando pelo shopping para encontrar um sapato que estivesse à altura da mãe do noivo. Tive ainda que lidar com um surto materno no qual me vi em uma joalheria comprando um colar de pérolas (tudo bem to feliz com o aumento repentino da minha herança).
Meu dia não termina ai, só agora me dei conta que meu irmão se casa sábado, que a unha que fiz hoje já é para o casamento. Que todo o sonho da minha cunhada vai se realizar em tão pouco tempo. Melodrama? Não. Só felicidade alheia mesmo, ou nervosismo alheio. Ainda estou tentando me concentrar em felicidade alheia, mas pensamentos como, um tropeço na entrada da igreja, ou um zíper que resolve emperrar não andam deixando. O fato de minha cunhada me ligar de meia em meia hora me contando uma novidade estão me deixando pior, como eu queria estar lá desde semana passada, como queria já ter entregado meu presente e ter visto a cara dela.
Tudo bem amanhã estou indo, e a partir daí me concentrarei em recém casados, mapas do salão, ordem das músicas, ordem da entrada, e em pensar em como vou ficar feliz quando estiver segurando o buquê durante a cerimônia. E com tanta ocupação assim é capaz de eu esquecer da cena do zíper emperrando.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Como sempre

“Uma água com gás. Me falaram que melhora ressaca.”
Nós rimos enquanto ela me lembrava que água com gás provoca celulite. O garçom trouxe a água que não provocou milagres, mas saciou minha sede desesperada. Era mais um dos nossos encontros mensais. Percebemos que precisávamos disso quando vimos que nossa rotina não deixava tempo pras velhas amigas. Dessa vez ela deixou para me perguntar detalhes de como havia sido minha noitada depois, pela água com gás simplesmente supôs. Tinha um assunto melhor para me contar, eu não sabia detalhes e isso agora era imprescindível, só havia recebido a mensagem “namorando” dois dias atrás. Não liguei, pois sabia que isso significava o inicio do planejado final de semana no meio do mato do casal. A conversa rendeu quase a tarde toda do domingo, minha sorte era o jogo de futebol que ele iria assistir se não ela teria ido embora mais cedo. Ouvi detalhes que iam desde a roupa de cama até confissões sexuais. Coisas normais nos nossos papos de domingo á tarde. O romantismo foi uma parte que dispensaria, mas ela sempre insiste em me contar, diz que talvez isso me amoleça. Nunca funcionou, mas ela não desiste de tentar. O detalhe das pétalas de rosa sobre a cama, me fez ter crise de riso, ela não ficou brava, também tinha achado brega. Mas estava apaixonada e entrou no clima.
Discutimos sobre a antiga colega de faculdade que estava grávida do segundo filho, uma conversa que eu não deveria ter começado, a visão lógica dela andava apaixonada demais. Cheguei a invejar em certas horas. É uma visão tão mais simples de mundo, que me impressionava, mas eu não estou tendo tempo e cabeça pra essas coisas. Terminamos o almoço com risadas como sempre, e como sempre das mesmas coisas. Ainda não me acostumei com a idéia de ter isso uma vez por mês, mas todas as vezes que nos vemos é como antes, como se tivéssemos nos visto ontem. Como se no final de semana passado tivéssemos visto o pôr do sol juntas.

Para ouvir; The Beautiful Girls - Periscopes

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Reencontro II

Seu corpo já começava a doer de tanto ficar na mesma posição, entre uma virada e outra pela cama ela despertava aos poucos. E enquanto despertava tentava se lembrar da seqüência dos fatos. Primeiro não tinha nada para fazer em pleno sábado a noite, já na terceira vez em que relia sua agenda de contatos, enquanto atendia uma amiga que outra que a procurava para saber desde aonde ir até a roupa que deveria vestir, uma ligação que salvou sua noite. Ela ainda estava se questionando se havia salvado ou terminado de destruir.
Não o via a três meses desde que seu medo por se envolver a levou a terminar algo que ela nem mesmo deixou começar. Ele continuava o mesmo, o cabelo levemente despenteado entre os cachos cor de mel, a barba por fazer era algo que ela preferia não lembrar muito, ele mudara de perfume, mas era melhor, a fazia sentir-se começando, e não reencontrando. Não se cumprimentaram tão carinhosamente como de costume, mas isso ela já esperava, afinal três meses naquele caso tinha sido muito tempo. As conversas foram calorosas misturavam as novidades dele com as dela, não havia nada de romântico, pareciam velhos amigos a colocar o papo em dia, no fundo ela sabia que era isso. Pediram a sobremesa enquanto ele contava do último final de semana que foi para a cachoeira que haviam ido juntos. Ela não queria ir embora, mas não discutiu quando ele pegou o caminho da sua casa. Apesar das conversas calorosas, o beijo foi frio, não havia a paixão de antes pelo menos da parte dela, ele brincou se ela não o convidaria para subir, ambos sabiam que era brincadeira, e ela não tentou disfarçar. Subiu no elevador na esperança de uma chamada não atendida ou uma nova mensagem, deixou o celular em casa de propósito. No fundo já sabia que não haveria nada, o orgulho dele, chegava a ser maior que o dela. Preferiu tomar um banho, aquele perfume que ficou na sua blusa agora causava enjôo. Arrumou sua cama, pegou a água, ainda ligou a tv mesmo sabendo que ás três da manha não haveria nada de interessante passando. Enfim o celular, nada. Ela já sabia não se surpreendeu e achava melhor assim. De novo seu medo era maior que o que sentia, se conformava com a esperança de que ele ligasse daqui alguns meses para um reencontro.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Reencontro

Resolveu que a encontraria de novo depois de voltar na cachoeira que estiveram juntos. Fora acompanhado, e parecia estar em um lugar diferente, sentiu falta dela, de sua risada, suas piadas sem graça, mas que a faziam rir, e isso o fazia bem. Ele sabia que já sentia falta a algum tempo, só não tinha tido coragem de ligar. Era sábado a noite, mas decidiu que tentaria, ela já deveria estar pronta para sair, apenas escolhendo em qual festa iria. Resolveu ligar, se arriscar.
Surpreendeu-se ao desligar o telefone já com a hora marcada para pega-la. Tinha que pensar um pouco mais rápido que de costume, com todas as outras era mais fácil, com ela não, ele pensava até na hora de passar o perfume. Pegou um novo, ela não comentou. Surpreendeu-se mais uma vez, achou que ela reclamaria já que gostava tanto do antigo. Ela estava linda como sempre, mas o olhava diferente, a sentia distante mesmo enquanto ela contava toda sua vida. Ele sabia que ela não contara o mais importante, quem era o dono daquele brilho que ele conhecia bem. Não propôs nada quando saíram do restaurante, ele não queria mais se machucar, sabia que se veriam de novo, preferia assim, aquela noite já chegava a seu fim. A conversa continuou no caminho pra casa. Despediram-se com um beijo, era o mesmo beijo, sentia-se como se estivesse voltando no tempo, mas mesmo assim algo estava diferente. Ela estava novamente apaixonada dessa vez não por ele, tinha de aceitar isso, três meses haviam sido mais tempo do que ele pensara. Agora ele só podia desejar que quem estivesse no lugar que estivera antes, tivesse mais sorte do que ele havia tido.

Comodismo

Acordou cedo, seu quarto não estava como deveria a noitada anterior havia deixado as maquiagens espalhadas entre as dez blusas que havia experimentado, não achou seu relógio, não faria falta, ela sempre olhava as horas no celular entre uma chamada e outra. A roupa ela escolheria depois, precisava primeiro cuidar de seu rosto, as olheiras não deixariam uma boa impressão naquele dia. Entre os sapatos estava seu corretivo, entre os sutiãs o blush, pronta. A roupa básica a faria passar despercebida, eram sete horas mais um pouco se atrasaria no meio das cobertas, a chave do carro. Ela arrumaria tudo quando voltasse.
Quinze minutos parada no transito, quinze minutos andando, todos os dias eram assim, contados. Sentiu falta da ligação, uma falta cômoda, era estável ter alguém por perto. Começou a lembrar de como havia sido fácil, ela preferia pensar assim, que em alguns meses ela estava de novo acomodada, a falta das mensagens já se tornara um hábito. Sua vida não havia mudado muito, nunca gostou de sair, de ficar, dançar sim, mas isso ela fazia antes. Chegou, subiu ao décimo terceiro andar, sua mesa não estava organizada, mas lembrando-se de seu quarto achou-a perfeita.
O almoço foi como sempre no self service próximo, já havia se cansado da comida, mas sua comodidade sempre falava mais alto. Nem no almoço desligava o celular, era um hábito, de novo sentiu falta da ligação, mas entre a salada e a sobremesa se esqueceu. Enquanto arrumava o quarto tentava ignorar o porta-retrato que a olhava, os dois, naquele dia em que ele se esqueceu do aniversário de namoro, já haviam se passado três anos, a amiga tirara a foto enquanto brigavam, era linda ela tinha que aceitar. Terminou colocando as maquiagens em escala de cor. Na hora de se deitar repetiu o velho hábito de reler as mensagens, era cômodo tê-lo por perto a noite, por fim ligou para o celular, caixa postal. Já cochilando ela pensava em possibilidades que justificassem o celular desligado. Era cômodo ter uma desculpa pra não se lembrar do celular desligado, junto das roupas e pertences que ela não conseguira se desfazer.

Incerteza

Ainda não havia completado uma semana que estiveram juntos, ela continuava ali, perto, sempre perto demais. Seu rosto, seus trejeitos, sua risada, sua mania de enrolar o cabelo, era tudo tão preciso que o assustava. Sabia quando ela queria sair, e sempre sabia se ela voltaria ou não. Conhecia sua vida quase que naturalmente, era como se ela já fosse parte da rotina, ela já era, mas era como se sempre tivesse sido. Não teve coragem de dizer nada em todas as vezes que estiveram juntos, sozinhos, mas não acreditava que ela nunca havia percebido. Era simples, seus amigos já diziam que estava escrito na testa, mas ele conhecia bem a distração daquela cabecinha, mesmo assim achava melhor não falar nada, pelo menos por enquanto. Nada era tão certo quanto ele queria, mas ele achava melhor, ela podia também não querer, e arriscar-se era uma possibilidade incogitável. Uma hora ele a perderia, apesar de nunca ter tido certeza que a teve.