sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sonho de uma manhã de verão

Eu ainda lembro das horas que passei, pensando, repensando, planejando, e desfazendo futuros prósperos de nós dois. Lembro bem, mas confesso que não sei especificar. Não sei ao certo se foram horas, alguns minutos, segundos. Sei que devo ter perdido a aula de alguma teoria chata que esqueci.
Deixei de lado lápis, caneta e caderno. Deixei até mesmo de cochilar enquanto apenas olhar pra janela me fazia sonhar. Comprei uma lapiseira nova, pois talvez ela me trouxesse um pouco de concentração, o que claro não funcionou. Assim como a velha tentativa do caderno mais bonito, a borracha colorida, nada.
Desde sempre, ou pelo menos de que me lembro. Quando nem ao mesmo beijar na boca eu podia. Sempre tive essa mania de super valorizar qualquer sentimento, ou qualquer inicio de paixão. Acho que entrei muito de cabeça na história de encontrar um príncipe encantado.
Todo sentimento novo, mesmo que fosse a velha e conhecida paixão. Eu fazia questão de ignorar, de tentar acreditar que era diferente, que dessa vez daria certo. Que eu casaria, e viveria feliz para sempre, numa casa nas montanhas cercada de filhos (ou não).
Não sei se com você foi diferente, talvez não. Planejei namoro, noivado, casa e possíveis nomes de filhos. Enquanto o professor insistia em fixar seus olhos em uma carteira qualquer de alguém que provavelmente estava prestanto atençao, em alguma teoria criada há séculos. Eu não ligava.
Sempre foi mais divertido pensar em você do meu lado, mesmo que fosse me chingando por querer um azulejo escandaloso de mais para o banheiro de visitas. Minhas amigas perderam a graça de me acordar, por que eu não dormia, apenas sonhava. Acordada.
Acordada demais para me dar conta que sonhar tão alto, traz um tombo muito maior. Meu tombo sempre vinha com o sinal, ou com alguém me cutucando pra ter companhia pra ir a cantina. Não gostava mais de mim, gostava de nós.
Gostava da aula, da sala, do professor da teoria mais chata que nunca prestei atenção. Gostava de nós dois, juntos. Mesmo que fosse na minha distração, movida por Piérre Lévi ou Artaud, ou por qualquer outra coisa que pudesse me levar pra longe de mim.

sábado, 26 de junho de 2010

Esquecida?


Ela havia se esquecido de pensar.Há muito tempo não pensava, simplesmente não queria. Pensar pra que se jurava já ter tudo que queria?

Esqueceu de lembrar do médico, do trabalho, do compromisso, da irritação. Não pensava, nem nela, nem nos outros. Seguia, sem pensar. Deixou de lado o que antes importava, e passou a pensar no que achava importante agora.

Iria seguir buscando a felicidade, não importa qual fosse. Buscava a felicidade nos outros, e não nela mesma. Achava que um namorado faria a diferença, e se um não fez, por que não tentar com mais dois ou três?

Continuava se esquecendo, se esquecia da beleza, enquanto se escondia atrás de corretivos, blush e óculos escuros. Ligava sempre o som no máximo, pra não lembrar de pensar enquanto passava pela rua que havia morado, ou pela rua que passou no dia que decidiu parar de pensar.

Esquecia carteira, celular, bolsa, cartões, onde quer que fosse. Esqueceu seu coração em alguma esquina quando quis beber pra esquecer. Esqueceu quem era junto com o celular, no banco de uma boate qualquer.

Ela simplesmente já não lembrava, que podia ser feliz por ela mesma. Esqueceu que tinha tudo pra sorrir mas preferia não lembrar. Ela já tinha medo de sorrir.

Conselho pra que?


Alguns já devem ter percebido, que há certo tempo os textos desse blog, não andam tendo muito haver com o seu nome.

Quando resolvi cria-lo estava em uma fase de textos românticos, em segunda pessoa e por aí vai. Há algum tempo isso mudou, então por que não mudar de blog?

Está feito, pessoas mudam, pensamentos mudam, tempo passa, o blog muda. Quanto aos textos românticos e mais dramáticos, esses continuarão sendo publicados aqui. Mas a maioria, que são os textos mais pessoais e de opinião estarão no meu novo blog o “Desaconselhando”.

Não pense em abandonar esse e só seguir o outro, como eu disse as coisas mudam, e nunca se sabe o que você vai querer ler. Para entender mais sobre esse novo projeto(?) clique aqui.

http://desaconselhando.blogspot.com

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Crise


Sabe quando eles dizem que depois de uma crise, vem sempre a ascensão?

Não, whatever. É isso que eu aprendi. Todos nãos aprendemos, quem não sabe que depois de uma briga o namoro melhora, o beijo melhora, o sexo melhora. É assim, como se fosse uma regra do mundo, da vida.

Países brigam, entram em guerra. E depois vão, recuperam suas economias os presidentes marcam um aperto de mão simbólico e o mundo jura que isso significa paz. Regra, não excessão.

A hora de se preocupar é quando o país está rico demais, bem demais, mandando demais. Não sei se sou pessimista, mas acho que o mundo impõe essa "regra de equilíbrio", nada é perfeito, bom, ou completamente ruim. Compensação, é essa a palavra.

Há compensações por todos os lados, o preço da cenoura subiu? Calma, o preço da abobora caiu. É sempre assim, mas a gente sisma de ver só o ruim né, então nos concentramos no altíssimo preço da cenoura, e lamentamos.

Brasileiro só pensa que o Dunga é um péssimo técnico, que convocou fulano e não ciclano. Ninguém lembra que o técnico da Argentina é o Maradona. Sempre tem alguém pior, ou sempre há algo melhor pra pensar. A seleção está uma merda? Mas você ainda não deciciu em quem votar. Viu, tem coisas não melhores, mas mais importantes para pensar.

Não sou excessão, sou regra. Provavelmente a mídia fez alguma lavagem cerebral em mim, e eu ando sofrendo com a copa também, anotanto placar dos jogos, e desesperada pelas últimas míseras figurinhas do albúm.

Crises são grandes, dão medo. A vantagem é que você sabe que ela vai passar, e provavelmente você irá tirar uma boa lição dela, e sairá melhor. Sem pessimismo, você não vai passar o resto da vida em baixo das cobertas, a sua tpm vai acabar, e por mais que você odeie vai ficar super feliz ao menstruar. Crise, deveria ser sinonimo de vida, sei lá, eu acho.
Voltando à história da crise e da ascensão, reparou que o preço da cenoura deu uma abaixada ?

domingo, 30 de maio de 2010

Confie no cristal


Quando esquecemos o valor da confiança, tem sempre uma maldita hora que ela resolve nos lembrar. Outro dia fui ao supermercado na esquina da minha casa. Como pelo menos três vezes por semana vou lá, e peço sempre a mesma quantidade de sushi. Neste dia inesperadamente o sushi man me fez uma pergunta estranha;

“O de sempre?”

-Sim, por que.

“20 minutos está pronto!”

-Mas ainda nem escrevi o pedido!?

“8 sushis de atum, 8 de camarão, 8 makis de atum, 8 de camarão, e quatro de polvo. Certo?”

-Sim

“Então, 20 mim você desce.”

Ok, eu confiei, deixei por carga da bendita memória daquele Sushi Man, o meu santo pedido. Acho que ele deve ter percebido que, eu morava no prédio logo em frente, e que descia pontualmente na hora que meu pedido estava pronto. Em 20 minutos estava eu, feliz, com meu pedido certo na mão.

Um dia minha mãe me contou, que confiança é como um cristal, que após quebrado, você pode até colar, e tentar concertar, mas ele nunca mais será o mesmo. Desde nova quando minha mãe me contou isso, prezo para que esse pequeno cristal que entrego a quem gosto, não se quebre.

Mesmo assim outro dia percebi que a confiança, é um cristal que poucas pessoas carregam por aí. Sei que muito poucas deixariam o pedido do sushi por conta daquele sushi man. Poucas se importariam com o tal cristal, e nem mesmo sabem que ele existe.

Esqueci-me de contar como esse cristal é valioso, ele não é importante apenas para sushis, mas para todas as relações humanas. Adolescentes de 14 anos provavelmente irão parar de ler esse texto nesse momento, mas se têm alguém que têm um cristal quase inquebrável, é o da confiança das mães.

Existe confiança maior, e mais regeneradora que a de uma mãe?

Com certeza você, quando tinha seus 14 anos brigou com sua mãe, prometeu nunca mais perdoá-la, se arrependeu e achou que ela nunca mais te perdoaria. Errou, ela ficou chateada, provavelmente chorou, mas te perdoou no final, e a confiança se reconstituiu, miraculosamente.

Se alguém conhecer alguma convivência sem confiança, por favor me conte, pois não acredito, muito menos conheço nenhuma.

Sei bem por que comecei esse texto, mas não acho que tenha tanta relevância assim. Acho apenas que comecei a dar valor às pequenas coisas que possuo. Como aquele cristal pequeninho que deixei com quem eu amo por aí.

Se você achar, cuide bem dele.
Por favor, e obrigada.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Indeferido


Outro dia indeferi ao tempo três coisas. Ele me disse que elas eram difíceis, e que provavelmente, eu não conseguiria indeferi-las. Resolvi arriscar, escrevi uma carta bem explicada, separei em tópico explicativo cada uma das três coisas, para que não houvesse confusão.

"Senhor tempo,
Estou aqui hoje pra esclarecer as coisas entre a gente. Chega de me mandar mensagens implícitas pelo relógio, pelo dia que acaba ou pela noite que começa. Vamos esclarecer as coisas entre nós, ou eu nunca ficarei plenamente feliz.

1.Não irei mais receber saudade.

Ela não me faz bem, e geralmente você faz questão de trazê-la. Não quero saudade de tempos bons, por que esses quando bem vividos não deixam saudade. Não quero saudade de quem morreu, por que essa saudade não cura, ela amargura, inflama, ela dói e depois você ainda faz questão de não querer levá-la embora. Não quero saudade triste nem saudade feliz, quero o presente, e esse requerimento não deve ser entregue ao senhor.

2. Não quero mais tantas mudanças.

Convenhamos, estou chegando aos 20, e depois disso, dizem que você não faz nenhuma paradinha, sai correndo com os anos, e nos leva sem ver. Quero aproveitar, pode até passar rápido, mas não aceito minhas mudanças físicas. Deixe a gravidade pros 70, a artrite pros 80, a chatisse pros noventa. Deixe as mudanças pra quando elas não fiçam tanta diferença, por enquanto mantenha meu corpo, conserve-o. Esqueça que tem que trazer meu primeiro fio branco, ou meu primeiro sapato ortopédico.

3. Desisto de acreditar que você não passa.

Sei que já tentou me convencer disso várias vezes, mandou mensageiros vizinhos, fotos, gravações, mas eu não acredito. Pare de achar que sou boba e estou me convencendo de que você vai demorar a passar, sei que quando eu ver já terá passado. Eu não acredito mais em você, desista de se esconder de mim, sei que está ai, e vai continuar.

A gente pode fazer um acordo, como diria o sábio Mario Lago; Se você não me perseguir, eu não fujo de você, quem sabe uma hora a gente se encontra?

Beijo
Juju"

Carta escrita em um dia qualquer, quando o tempo me lembrou que eu havia me esquecido dele, e resolvi de uma vez por todas esclarecer as coisas.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Parei pra pensar.


Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.

John Lennon