terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Lágrimas


Na sociedade em que vivemos, as emoções são cada dia mais íntimas, e mais escondidas. Queremos sempre parecer felizes demais. Ser visto chorando é algo que pode muitas vezes acabar com uma reputação (que perigo).

Ainda lembro quando eu mudei de escola na 5ª série, e por incrível que pareça meu primeiro choro (quase) em público, foi digamos traumatizante. Após ser chamada de patricinha e filhinha de papai, eu fui pro banheiro chorar. Não sem antes acabar com a raça da gordinha que havia feito isso comigo. Ela se fazia de punk rock, comprava pulseirinhas na feira, usava símbolos de RPG que nem sabia o significado, e veio falar do meu tênis da Nike e da minha mochila da Kipling? Claro que eu não deixaria isso barato.

Após uma discussão colossal na frente de toda a turma ela saiu chorando em público, e aquilo para mim foi a glória. O que ninguém sabe foi do meu choro escondido na 3ª cabine do banheiro feminino do primeiro andar. Quando minhas amigas perguntaram disse que estava com diarréia. Mesmo tendo sido um choro escondido, a simples possibilidade de que alguém percebesse minha cara inchada, ou ouvisse meu choro me apavorava, ainda mais depois de ter visto como a minha rival foi criticada.

Esse é um bom exemplo de como sentimentos são cada vez mais reprimidos por vergonha da reação alheia. Eu preferi falar que estava com diarréia a dizer que estava chorando. Poxa. E olha que eu tenho vergonha de ter diarréia.

Nós sempre nos esquecemos de que a felicidade é um sentimento que não é pleno, nunca se é feliz sempre, nem triste sempre. Todos nós temos crises, temos tristezas, problemas, e alegrias simples, e não há mal em demonstrar isso.

Outro dia vi passando pelo corredor da faculdade uma menina chorando, eram 7 da manhã para alguém começar a chorar tão cedo, era algo grave. Meu instinto social insistiu para que eu preservasse a intimidade da garota, mas nesse mesmo momento meu lado humano falou mais alto. Eu me lembrei, de quantas vezes segurei o choro por vergonha, mesmo sabendo que em certos momentos eu precisava apenas de um abraço qualquer que fosse. Me aproximei e perguntei o que havia, ela disse que nada (bom era o que eu diria também). De qualquer forma eu falei para ela não ficar daquele jeito, que tudo passa, que com certeza aquilo passaria.

Nunca soube o que houve com a garota aquele dia, mas o singelo sorriso quando nos cruzamos no corredor me faz lembrar até hoje de como um gesto de carinho ainda é muito importante.

Mesmo sem TPM, ou sem problema nenhum, vai haver um dia em que você vai querer chorar, chorar muito. Por saudade de alguém que se foi, por saudade de uma época, por felicidade ou por assistir Um amor pra recordar (de novo). A vida é assim, lágrimas são normais, sorrisos cada vez mais freqüentes e raiva me causa enjôo, assim como a ansiedade. Não somos um poço de felicidade, nem de tristeza, variamos entre dias bons e ruins, mas isso não nos impede de viver. De receber um sorriso de um estranho ou de aconselhar um desconhecido triste. Muitas vezes o que nos entristece hoje nos faz feliz amanhã.

Depois de alguns meses eu e a gordinha punk-rock nos tornamos amigas, ela ficou menos punk e eu menos Patty. Até hoje rimos quando nos lembramos dessa história, mas até hoje não tive coragem de contar do meu choro escondido. É, certas coisas nunca mudam.

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